domingo, 29 de abril de 2007

Empreendedorismo: existe luz no fim do túnel?

Wil Schroter, empreendedor americano cuja especialidade é empreender novos negócios de sucesso para depois vendê-los, escreveu um excelente artigo sobre empreendedorismo, em empresas iniciantes, intitulado Finding the Light at the End of the Tunnel. Recomendo a leitura do referido texto, pois contrasta com muitos dos dogmas pregados atualmente sobre a gestão empresarial, tais como objetivos e visão empresarial de longo prazo.

Como entendo não haver fórmula única para o sucesso e acredito que cada empreendedor deve descobrir sua melhor forma de gerir e fazer negócios, resolvi expor as idéias de Schroter para fomentar o debate sobre gerenciamento e planejamento estratégico.

O espaço do Insight Estratégico é, basicamente, para trazer novas idéias sobre gestão ao debate e quebrar os dogmas da administração empresarial que dizem: “faça isto”, “tenha isto” e “atue assim” ou seu negócio está fadado ao insucesso. Tais prescrições, geralmente, desrespeitam uma idéia simples: o sucesso em qualquer negócio não advém de fórmulas prontas e abstratas desveladas em um belo plano analítico de negócios, mas de uma fórmula e solução única criada pela experiência e vivência do estrategista. Digo estrategista em amplo sentido, pois entendo a estratégia empresarial como um fenômeno que está vivo em todo e qualquer lugar de uma organização, sendo que o criador de estratégias poderá ser tanto o gestor do negócio (= diretor ou presidente) como qualquer outro indivíduo ou grupo de indivíduos que atuam ou não na empresa.

Assim, voltando ao tema central, Schroter faz a seguinte afirmação:

"People often ask me how I knew a company that I started was going to be successful. They equate the concept of being successful to finding a white light at the end of a dark tunnel. In my experience, entrepreneurs rarely ever see a white light of success until it’s blinding them entirely. They are so busy building their company and trying to get through next week that they don’t have time to seek out any kind of light. The good news is that even though things may be difficult for you now (they always are when you start up,) chances are you’re headed in the right direction and success may be closer than you think. Your focus doesn’t need to be about whether you can see that white light as much as what you’re doing to move forward along the way."

Em linhas gerais, a idéia central da citação consiste em verificar que, raramente, os empreendedores são capazes de enxergar uma luz no final do túnel, ou seja, saber se estão no caminho certo, porquanto estão ocupados demais construindo sua empresa e tentando chegar vivos à próxima semana. Assim, o brilho do sucesso, geralmente, é enxergado apenas quando a pessoa realmente atingiu êxito em suas ações.

Essa idéia contribui para aquilo que venho afirmando sobre visão empresarial: via de regra, ninguém possui uma clara visão empresarial pronta de seu negócio, muitas vezes ela é um tanto quanto flexível, pois é algo que é amadurecido e desenvolvido com o tempo de trabalho, estudo e conhecimento do mercado. Portanto, provavelmente, não será na uma frase de planejamento estratégico chamada de visão que você definirá toda a direção de sua empresa. Assim, o dogma prescritivo de visão gerencial, que afirma prazo de 10, 20, 30... anos para atingi-la ou defini visão como algo inatingível, não corresponde a realidade da maioria dos novos negócios que estão, geralmente, focados na visão de curto prazo.

Algumas pessoas mais ortodoxas podem entender o foco no curto prazo como um absurdo ao afirmarem: “como assim focar o curto prazo? É preciso pensar o longo prazo para definir as atividades de curto prazo, pois o planejamento estratégico pressupõe um pensamento de no mínimo 5 (cinco) anos para o futuro!”

A afirmação de pensar o longo prazo para fazer o curto prazo é uma fórmula dentre as várias possíveis. Caso você pense que é absurdo as metas de curto prazo não estarem focadas no longo prazo, então você está mentalmente encerrado na fórmula pronta de planejamento estratégico que não deixa você ver além e exercitar sua capacidade criativa de criar novas estratégias empresariais para seu negócio. Primeiro, quem disse que é sempre possível realizar o curto prazo com base em uma meta de longo prazo? Segundo, onde surgiu essa idéia de que tudo deve ser pensado em 5 (cinco) anos para o futuro? Por que não menos? Por que não mais? Por que não pensar agora?

Embasando minhas afirmações, Schroter refere:

"In order to create some semblance of progress, entrepreneurs don’t focus on the light at the end of the tunnel. They focus on the area five feet in front of them and stay laser-focused on that goal until they reach it. Staying focused on a near-term goal isn’t so much about being short-sighted; it’s about recognizing the fact that beyond five feet, you have no idea which direction to go until you get there. Your milestones can be relatively small. You can focus on your next product update, or landing your next client, or simply incorporating the company. The size of the milestone isn’t as much the issue as actually reaching the milestone and moving on. Of course it helps to have larger goals and direction, but let’s face it – there are going to be many paths to achieve your goals and chances are you’re not going to know the entire route until you make it another five feet."

Assim, uma importante realidade consiste em entender que muitas vezes você não possui e não consegue focar o longo prazo e, portanto, deve focar a área “cinco pés a sua frente”, pois diversas vezes, quando você cria um projeto ou plano, somente é possível ver e focar objetivos de curto prazo. Assim, embora você possa sentir, intuitivamente, que seu plano ou projeto são bons, somente conseguirá ver além da “área de cinco pés a sua frente” se avançar em suas ações do mundo concreto. Logo, em alguns momentos, sente-se que as idéias podem criar uma oportunidade futura, porém saber onde essas idéias levarão a empresa somente será possível se elas forem executadas.

Outro aspecto importante a ser perguntado é o seguinte: será mesmo que é necessário esperar o aparecimento da visão de longo prazo para tão-somente nesse momento empreender? Schroter entende que não:

"If you sit around and wait for a light at the end of the tunnel that will signal your success, you’re going to be waiting a very long time. There are no early warning signs that I’ve ever seen. In fact, I don’t know any other entrepreneur that has known they were going to be successful until they actually were."

Assim, esperar a luz no final do túnel, que indicará seu sucesso, muitas vezes significa esperar a vida toda, pois é preciso ação para ver alguma luz. Ademais, conforme diz Schroter, os empreendedores não conseguem ter certeza de seu sucesso pró-ativamente, eles apenas descobrem que seu negócio foi um empreendimento de sucesso quando realmente atingem esta condição.

A presente postagem teve a intenção de enfocar a formação da chamada estratégia emergente que é muitas vezes esquecido pelos planejadores ao apontarem como caminho único o processo de planejamento estratégico com suas estratégias deliberadas e articuladas em um plano escrito. Assim, é possível vislumbrar que a construção de um negócio pode não estar na capacidade de criar planos estratégicos de longo prazo, mas na ação criadora de novas oportunidades. Estas, por sua vez, serão desveladas gradualmente, conforme você consiga mover-se em direção à “área de cinco pés a sua frente” para começar a visualizar mais ações necessárias para o sucesso de algum projeto ou negócio em particular.

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